O Que é o Lucro Real e Como Ele Funciona?
Lucro Real é um regime de tributação utilizado por empresas no Brasil para calcular impostos com base no lucro líquido obtido durante um determinado período. Esse sistema permite uma maior precisão na apuração dos tributos, pois considera todas as receitas e despesas da empresa.
Diferente de outros regimes, como o Simples Nacional ou o Lucro Presumido, o Lucro Real exige um controle contábil rigoroso, pois os tributos são calculados com base no lucro efetivo da empresa. Isso significa que, se houver prejuízo no período, a empresa pode não precisar pagar determinados impostos.
Empresas de grande porte ou que possuem margens de lucro variáveis tendem a optar por esse regime, pois ele permite uma gestão tributária mais eficiente, aliviando a carga de impostos em momentos de menor rentabilidade.
Quem Deve Optar pelo Lucro Real?
Embora qualquer empresa possa optar pelo Lucro Real, algumas são obrigadas a adotar esse regime devido ao faturamento ou ao setor em que atuam. Além disso, certas empresas podem se beneficiar desse modelo devido às suas características financeiras.
Empresas Obrigadas a Adotar o Lucro Real
- Faturamento superior a R$ 78 milhões: Empresas com receita bruta anual acima desse valor são obrigadas a adotar esse regime.
- Instituições financeiras e similares: Bancos, seguradoras, corretoras e outras instituições do setor financeiro precisam seguir esse modelo tributário.
- Empresas de capital aberto: Negócios que negociam ações na bolsa de valores também devem adotar o Lucro Real.
Empresas que Podem se Beneficiar do Lucro Real
- Empresas com margens de lucro baixas: Como o imposto é calculado sobre o lucro efetivo, empresas com lucros reduzidos podem pagar menos impostos.
- Empresas com altos custos operacionais: Negócios que têm despesas elevadas podem se beneficiar, pois esses custos reduzem a base de cálculo do imposto.
- Empresas que registram prejuízo em certos períodos: O Lucro Real permite compensar prejuízos fiscais de um período para outro, reduzindo a carga tributária futura.
Empresas que possuem uma estrutura contábil bem organizada e conseguem gerenciar suas finanças com precisão tendem a aproveitar melhor as vantagens desse regime tributário.

Como é Feita a Tributação no Lucro Real?
A tributação do Lucro Real segue alíquotas específicas para o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e para a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)
O IRPJ é calculado com base no lucro real e segue as seguintes alíquotas:
- 15% sobre o lucro tributável apurado no período.
- Adicional de 10% para lucros mensais acima de R$ 20.000,00.
Exemplo de Cálculo:
Se uma empresa obteve um lucro de R$ 100.000,00 em um mês:
- IRPJ sobre os primeiros R$ 20.000,00: 15% de R$ 20.000,00 = R$ 3.000,00.
- IRPJ adicional sobre os R$ 80.000,00 excedentes: 10% de R$ 80.000,00 = R$ 8.000,00.
- Total de IRPJ a pagar: R$ 3.000,00 + R$ 8.000,00 = R$ 11.000,00.
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)
A CSLL também é baseada no lucro da empresa, com alíquotas que variam conforme o setor:
- 9% para a maioria das empresas.
- 15% para instituições financeiras, seguradoras e equiparadas.
Exemplo de Cálculo:
Se a mesma empresa obteve um lucro de R$ 100.000,00 e não é do setor financeiro:
- CSLL: 9% de R$ 100.000,00 = R$ 9.000,00.
Tributação de PIS e COFINS
No regime do Lucro Real, o PIS e a COFINS são apurados pelo método não cumulativo, permitindo que a empresa utilize créditos para reduzir o valor a pagar. As alíquotas são:
- PIS: 1,65% sobre o faturamento bruto.
- COFINS: 7,6% sobre o faturamento bruto.
Exemplo de Cálculo:
Se uma empresa faturou R$ 500.000,00 em um mês:
- PIS: 1,65% de R$ 500.000,00 = R$ 8.250,00.
- COFINS: 7,6% de R$ 500.000,00 = R$ 38.000,00.
- Total de PIS e COFINS sem deduções: R$ 46.250,00.
Exemplo com Dedução de Créditos:
Se essa empresa teve R$ 150.000,00 de despesas com insumos e serviços essenciais para a operação, ela pode abater créditos sobre esses valores. Considerando que os créditos de PIS e COFINS seguem as mesmas alíquotas:
- Crédito de PIS: 1,65% de R$ 150.000,00 = R$ 2.475,00.
- Crédito de COFINS: 7,6% de R$ 150.000,00 = R$ 11.400,00.
- Total de créditos: R$ 13.875,00.
Com isso, o valor final de PIS e COFINS a pagar será:
- R$ 46.250,00 – R$ 13.875,00 = R$ 32.375,00.
Tributação de PIS e COFINS (Regime Misto)
No entanto, algumas empresas operam com o regime misto, ou seja, possuem parte de suas receitas sujeitas ao sistema não cumulativo e outra parte ao cumulativo. Nesses casos, a apuração de créditos pode ser aplicada somente sobre as receitas que seguem o modelo não cumulativo, enquanto a parte sujeita ao sistema cumulativo não gera créditos.
Exemplo de Cálculo em Empresa no Regime Misto
1. Cálculo do PIS e COFINS sobre o faturamento
Agora, imagine uma clínica médica, que presta serviços (regime cumulativo) e vende produtos como medicamentos (regime não cumulativo).
Se essa clínica faturou R$ 400.000,00 no mês, sendo R$ 250.000,00 com serviços médicos e R$ 150.000,00 com vendas de produtos, a tributação funcionaria assim:
- Sobre os serviços (regime cumulativo, sem créditos):
- PIS: 0,65% de R$ 250.000,00 = R$ 1.625,00.
- COFINS: 3% de R$ 250.000,00 = R$ 7.500,00.
- Sobre a venda de produtos (regime não cumulativo, com créditos):
- PIS: 1,65% de R$ 150.000,00 = R$ 2.475,00.
- COFINS: 7,6% de R$ 150.000,00 = R$ 11.400,00.
- Total de PIS e COFINS antes dos créditos: R$ 23.000,00.
2. Cálculo dos Créditos Proporcionais
Se a clínica teve R$ 50.000,00 em despesas com insumos, o crédito de PIS e COFINS precisa ser ajustado pela proporção da receita não cumulativa (37,5%).
O valor dos insumos que pode gerar crédito é:
R$ 50.000,00 × 37,5% = R$ 18.750,00
Agora, aplicamos as alíquotas de PIS e COFINS:
- Crédito de PIS: 1,65% de R$ 18.750,00 = R$ 309,38
- Crédito de COFINS: 7,6% de R$ 18.750,00 = R$ 1.425,00
Total de créditos proporcionais: R$ 1.734,38
3. Cálculo Final de PIS e COFINS
R$ 23.000,00 (tributos totais) – R$ 1.734,38 (créditos proporcionais) = R$ 21.265,62
A dedução dos créditos pode reduzir significativamente a carga tributária, tornando o Lucro Real mais vantajoso para empresas que possuem muitos gastos operacionais dedutíveis.
Outras Obrigações
Empresas que optam pelo Lucro Real devem manter uma contabilidade precisa, registrando todas as receitas, despesas e movimentações financeiras. Além disso, precisam enviar periódicos relatórios contábeis e fiscais, como a ECF (Escrituração Contábil Fiscal).

Lucro Real Trimestral x Lucro Real Anual: Qual a Melhor Opção?
No Lucro Real, a empresa pode optar por apurar seus tributos de forma trimestral ou anual. Cada modalidade tem suas vantagens e desvantagens:
- Lucro Real Trimestral: O imposto é calculado a cada três meses, reduzindo o impacto financeiro de uma única apuração anual. Pode ser mais vantajoso para empresas com grande variação de lucros.
- Lucro Real Anual: A empresa paga tributos ao longo do ano por meio de antecipações mensais, ajustando os valores no fechamento do exercício.
A escolha ideal depende do fluxo de caixa da empresa e da previsibilidade de suas receitas e despesas ao longo do ano.
Dicas para Empresas que Optam pelo Lucro Real
Para garantir uma gestão eficiente e evitar problemas fiscais, é importante adotar algumas boas práticas na administração de uma empresa que opera sob o Lucro Real:
- Mantenha um controle financeiro detalhado: Registre todas as receitas e despesas para garantir que os cálculos sejam precisos.
- Utilize um software de gestão contábil: Ferramentas especializadas podem facilitar a apuração e evitar erros.
- Conte com uma equipe contábil especializada: Profissionais experientes ajudam a otimizar a carga tributária e garantir conformidade com as leis fiscais.
- Fique atento às mudanças na legislação: As regras tributárias podem sofrer alterações, impactando o regime de Lucro Real.
- Aproveite benefícios fiscais: Algumas deduções permitidas podem reduzir significativamente o pagamento de impostos.
Conclusão
O Lucro Real é um regime tributário que pode ser altamente vantajoso para empresas com grande volume de despesas dedutíveis ou margens de lucro reduzidas. Apesar de sua complexidade, ele permite uma tributação mais justa e alinhada com a realidade financeira do negócio.
Empresas que consideram adotar esse regime devem avaliar cuidadosamente seus custos operacionais e contar com um suporte contábil especializado para garantir que estão aproveitando ao máximo os benefícios do Lucro Real. Fazer uma escolha informada pode impactar diretamente na competitividade e sustentabilidade do negócio no longo prazo.